Ironicamente, uma tese que esvazia um pouco o triste furor comemorativo é que a crise econômica terá mais impacto histórico do que os ataques terroristas do 11 de setembro. Basta ver um artigo na edição corrente de VEJA (um especial de 31 páginas sobre os 10 anos dos atentados, leitura obrigatória!), de Bill Emmott, jornalista e escritor (ex-diretor da revista The Economist). O título é O 15 de setembro de 2008, em referência à quebra do Banco Lehman Brothers, um estopim da crise econômica.
Mas, deixemos este debate detalhado sobre o impacto da crise econômica para 15 de setembro de 2018. No aqui e agora, estamos prestes a ultrapassar os dez anos dos atentados. A data é sóbria e existem questões sobre a validade de vários aspectos da obra no Marco Zero, em particular a construção da nova torre com o nome 1 World Trade Center e o risco de uma localizada bolha imobiliária. Porém, vale muito mais destacar esta mescla de comemoração e renascimento.
Não existem apenas destroços físicos e emocionais. A torre sobe em Manhattan, num desafio ao terror. Claro que esta é uma nação fragilizada, polarizada, frustrada e incerta sobre o seu futuro. Na narrativa do historiador Paul Kennedy, não vai dar outra: os excessos imperiais (e aqui contam custos de guerras americanas sem a devida tributação, sem falar, é claro, das perdas humanas) deverão levar a um declínio inevitável. Sim, o declinio acontece em meio ao que o guru Fareed Zakaria chama de “ascensão do resto”, inclusive o Brasil. No entanto, por favor, não vamos assinar o atestado de óbito dos United States of America ou desmerecer a capacidade de recuperação.
Nesta semana de tanto enfoque sombrio no décimo aniversário de uma data nada querida, vamos ressaltar alguns aspectos positivos: Osama bin Laden está morto, o perigo do terror Al Qaeda sobrevive, mas a rede está enfraquecida e desde aquele 11 de setembro nenhum grande atentado aconteceu nos EUA. Infelizmente, tantas outras sociedades foram vítimas. A infame agenda ideológica de uma jihad global não tem vez contra o Ocidente. Pode causar estragos, mas até no mundo islâmico está desacreditada, embora a mensagem mais moderadamente islamista (como a da Irmandade Muçulmana) tenha appeal e ganhe espaço na primavera árabe.
O Ocidente e sua capital Nova York aguentaram o tranco há dez anos (podemos reconversar sobre aspectos mais complexos do rombo em 15 de setembro de 2018, ao estilo Bill Emmott) e os ataques deixaram destroços, mas, apesar de alguns excessos na guerra contra o terror, prevalecem sólidas instituições democráticas. A rede Al Qaeda não destruiu o nosos modo de vida (inclusive coisas patéticas como o atual nível do confronto político-partidário nos EUA).
Houve o ataque direto em 11 de setembro e existe aquela conversa que o grande plano de Osama bin Laden era fazer a gente sofrer com a hemorragia (inclusive econômica) e morrer. Ele morreu. Viveremos na banda ocidental. É verdade que num clima de mais tempestades econômicas, medo de novos ataques terroristas e competição de modelos que contestam a democracia e o capitalismo liberal, seja nas bandas chinesas, seja em bandas islamistas.
A crise econômica poderá ser longa e brava e o perigo mora em qualquer esquina, em qualquer torre, mas é vital que o valor da democracia liberal permaneça intacto, por todos os setembros adiante.
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